Foram dias perfeitos, e isso me assusta.

  Desde o dia 06 deste mês (domingo) até o dia 17 (quinta-feira), li quase 1.300 páginas, como mostra o gráfico abaixo (estou adorando fazer isso).





 Já havia algum tempo que eu não conseguia ler muito, uma inércia literária devido ao eurocentrismo de Victor Hugo em Os Miseráveis. Portanto, estava muito feliz em estar lendo tanto. Mas ler muito também pode nos fazer mal. Estava com os olhos doendo na quinta-feira, e mesmo assim li 81 páginas. Decidi que no dia seguinte e durante o fim de semana inteiro, não leria nada.
 Sexta-feira fui ao colégio (com minha linda choker de couro e spikes, devo me gabar), fui ao psicólogo (que descobri ser punk), voltei para casa e apenas arrumei minhas coisas para as aventuras dos dias seguintes. Também limpei alguns livros de história — cortando meu dedo com papel no processo, pela primeira vez; foi legal. 
 Não li uma página sequer. Também não tinha a menor vontade.
 No dia seguinte, acordei cedo, tomei banho, me vesti, e logo estava indo até a rodoviária me preparando para um guia turístico. 
 Minha mãe, por ser jornalista, recebeu o ingresso Pôr do Sol da Serra Verde Express. Não estudei muito sobre para descrever com exatidão sobre o que se trata, apenas fui. Foi um guia turístico por Morretes e Antonina, com direito a uma maquete incrível sobre a história do Paraná, Curitiba e essas cidades já mencionadas. A volta foi no trem Serra Verde Express, no vagão pet friendly — área em que é permitido a presença de pets. 
 Para mim, que moro em Curitiba e já fui em todas as cidades citadas — Morretes, Antonina, Paranaguá, Foz do Iguaçu, Guaíra, Piraquara —, não foi grande coisa. Bom mesmo foi andar por Morretes, ouvir os músicos, ver as recriações de artes, tomar um picolé vegano... Eu amo isso.

picolé vegano


 Devo admitir que a melhor parte foi a do trem. O mesmo casal que nos acompanhou na ida à Morretes, voltou conosco no trem, bem ao nosso lado. Eram incríveis. Uma moça de São Paulo, extrovertida, engraçada, com 20 e tantos piercings e 30 e tantas tatuagens, e um moço de São José dos Pinhais, introvertido, calmo, e igualmente interessante. Seus pets também eram uns amores — embora tenha me enturmado mais com Atena do que com Clyde. 
 O papo foi incrível e os dois tornaram essa viagem de quatro horas a menos entediante possível. Socializei muito com eles, e são pessoas que com certeza estão no meu ranking de Melhores Pessoas que Já Conheci.
 Cheguei em casa e já entrei no carro, em destino à praia. Tive o prazer de ouvir minha playlist na mídia do carro, algo bem raro devido às divergências entre os gostos musicais meus e de minha mãe.
 Meu sono foi muito bom. Levei meu kindle, achando que leria algo, mas não rolou.
 Tomei café, conversei com os parentes de meu padastro, andamos de carro até algumas praias, peguei conchas, depois fomos a pé até a Praia de Leste. Fazia um tempo que eu não ia à praia, mas só entrei um pouco no mar para não passar batido.
 O sentimento artístico não parou em nenhum momento (inclusive, fiz uma escultura de areia de uma água-viva). Era ideia de quadro, de poema, de tudo que é coisa. Aquele frio na barriga que não sai enquanto a arte não está pronta.






 Voltando à casa, troquei de roupa, tomei um café e fiz uns rascunhos de águas-vivas, conchas e formas geométricas. Pouco depois, às 16h, estávamos voltando à Curitiba. O caminho de casa foi muito tranquilo, embora eu estivesse com um cansaço enorme.
 Cheguei em casa, tomei banho, folheei os livros de estudo pré-vestibular dados pela professora de artes, e cá estou. 
 Como era de se esperar devido ao contexto, andar longos trajetos até a praia de chinelo — como eu odeio essa porcaria — me gerou umas horinhas de não-verbalidade, sensibilidade auditiva, hiposensibilidade em questões fisiológicas básicas e, talvez, um pequeno mal-humor. Como era de se esperar, devido ao contexto, não pude evitar alguns pensamentos disfóricos, por ver meu meio-irmão de 17 anos, levemente musculoso, sem camisa na praia enquanto eu, por ter seios que nunca desejei, tive de continuar de camiseta e sutiã — a herança genética de minhas ancestrais fêmeas também não me ajuda. Tive de ficar ali, sonhando e sonhando com o dia em que finalmente faria uma cirurgia que me permitiria ficar sem camiseta na praia. Sou agênero, não anseio por um corpo tipicamente tachado como masculino (para mim, isso nem existe), mas não posso evitar o fato de que eu não gosto dessas protuberâncias no meu tórax
 Mas, fora esses pequenos conflitos inevitáveis enquanto eu não receber um diagnóstico para os possíveis sinais citados e não pagar pela tal cirurgia, sábado e domingo foram espetaculares. O meu ideal de perfeito, na medida certa — embora encher cara, ficar chapado de maconha e ouvir um punk hardcore também seja. Um dia de risos e fulia com pessoas incríveis, e um dia tranquilo na praia.
 De fato li algumas páginas hoje, mas não chegou nem a 20, então não anotarei.
 Foi perfeito. Eu sequer me preocupava com o horário, com atividades escolares, com estudo, com dúvidas ridículas acerca de meu gênero e sexualidade. Tive alguns dias de PAZ.
 E estou muito orgulhoso por isso.

 — Por mais dias pacíficos.










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